Diagnóstico Tardio de TEA

As mudanças de critérios diagnósticos para definição de Transtorno do Espectro Autista nos últimos anos, além de um aumento no conhecimento geral sobre esta condição, têm levado muitos adultos a buscar avaliação sobre um possível diagnóstico tardio para si1.

O diagnóstico de TEA definido apenas na vida adulta é, ainda assim, clinicamente importante pois permite ao indivíduo acesso a serviços de assistência médica bem como suporte psicológico e social2.

Dentre alguns dos obstáculos encontrados para um diagnóstico de TEA durante a vida adulta podemos citar os seguintes:

  1. acesso restrito ao histórico de neurodesenvolvimento e características de TEA na infância, tanto por poucas recordações por parte de familiares bem como falta de acesso a registros médicos;
  2. a camuflagem social, muitas vezes desenvolvida como estratégia compensatória, pode mascarar dificuldades observáveis na comunicação e interação social;
  3. diversos sintomas relacionados a comorbidades psiquiátricas como depressão, ansiedade e transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) podem ofuscar manifestações características de TEA durante a avaliação clínica.

Indivíduos com diagnóstico de TEA após o início da idade adulta deparam-se também com inconsistências de acesso a serviços de saúde, com pouco suporte adequado a suas demandas, o que os leva a considerar o processo de busca diagnóstica muitas vezes árduo e desafiador3. Além disso, muitas pessoas com diagnóstico tardio de TEA já apresentaram um frustrante histórico de atendimentos em saúde mental recebendo diagnósticos errados ou comórbidos, porém sem avaliação para sua condição primária1.

Mas, afinal, o que muda na vida de um adulto após o diagnóstico correto de TEA?

Após um diagnóstico estabelecido, podemos buscar melhora de qualidade de vida através da identificação de necessidades específicas como adequações ao ambiente de trabalho, psicoterapia, provisão de suporte em determinados contextos, tratamento de comorbidades psiquiátricas e redução de estigma e autocrítica1.

O diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista é eminentemente clínico, realizado por médico, preferencialmente junto de equipe multiprofissional, com várias fontes de informação e testes padronizados.

Ainda assim, muitos indivíduos precisam de um tempo para digerir o significado de seu diagnóstico – uma mudança de paradigma que pode gerar desânimo, frustração e tristeza a curto prazo, como um processo de luto. Apesar do impacto emocional que o diagnóstico de TEA pode trazer, o autoconhecimento, ressignificação de experiências e tratamento correto são o ponto de partida para uma nova trajetória de vida.

REFERÊNCIAS

  1. Gellini, H., & Marczak, M. (2023). “I Always Knew I Was Different”: Experiences of Receiving a Diagnosis of Autistic Spectrum Disorder in Adulthood—a Meta-Ethnographic Systematic Review. Review Journal of Autism and Developmental Disorders, 1-20.
  2. Lai, M. C., & Baron-Cohen, S. (2015). Identifying the lost generation of adults with autism spectrum conditions. The Lancet Psychiatry2(11), 1013-1027.
  3. Huang, Y., Arnold, S. R., Foley, K. R., & Trollor, J. N. (2020). Diagnosis of autism in adulthood: A scoping review. Autism24(6), 1311-1327.