Anorexia Nervosa (AN)

Neste quadro, observa-se a restrição da ingesta calórica em relação às necessidades, levando a um peso corporal significativamente baixo no contexto de idade, gênero, trajetória do desenvolvimento e saúde física (peso inferior ao peso mínimo normal ou, no caso de crianças e adolescentes, menor do que o minimamente esperado).

Há medo intenso de ganhar peso ou de engordar, ou comportamento persistente que interfere no ganho de peso, mesmo a pessoa já apresentando um peso significativamente baixo.

A perturbação no modo como o próprio peso ou a forma corporal são vivenciados influencia indevidamente a autoavaliação do indivíduo ou há ausência persistente de reconhecimento da gravidade do baixo peso corporal atual (distorção da imagem corporal).

Dois subtipos de AN são caracterizados:

  1. Restritivo – a perda de peso é conseguida por meio de dieta, jejum e/ou exercícios físicos excessivos;
  2. Por compulsão alimentar e purgação – os indivíduos experimentam, nos últimos 3 meses, episódios recorrentes de compulsão alimentar seguidos de métodos purgativos (vômitos autoinduzidos ou uso indevido de laxantes, diuréticos ou enemas, por exemplo).

A classificação de gravidade é baseada no índice de massa corporal (IMC) atual (ou percentil do IMC em crianças e adolescentes) como leve (> 17kg/m2), moderada (16-16,99 kg/m2), grave (15-15,99 kg/m2) ou extrema (< 15 kg/m2).

É uma doença de curso crônico, com graves manifestações psíquicas e clínicas. Mulheres entre 15 e 25 anos são o grupo mais atingido. A ocorrência entre parentes de 1o grau é de 6 a 10 vezes mais frequente tanto pelo fator hereditário como aprendizagem comportamental dentro da família. Ambiente, cultura e moda são fatores determinantes na patogênese por determinar padrões de beleza e saúde vinculados à magreza.

Evita-se alimentos ricos em carboidratos e a restrição progride a ponto de abolir a ingesta de grupos alimentares e a minimizar o número de refeições.

O quadro a seguir mostra as alterações decorrentes da AN:

Em relação às comorbidades psiquiátricas mais frequentemente associadas à AN, podemos citar:

  • Depressão – 50-75%
  • Transtornos ansiosos – 60%
  • TOC – 40%
  • Dependência de álcool e outras drogas – 12 – 27%

Taxas de recuperação são variáveis, mas a média dos estudos mostra que 50% dos casos apresentam uma recuperação completa; 30% apresentam alternância entre períodos de melhora e recidiva, 20% dos casos têm um curso crônico e refratário com complicações físicas e psicológicas importantes. A mortalidade varia entre 5 a 20%.

O tratamento demanda uma assistência multidisciplinarcom, ao menos, nutricionista, psicólogo e médico psiquiatra. A abordagem foca no tratamento das complicações clínicas e comorbidades clínicas e psiquiátricas bem como na recuperação cognitiva, volitiva e afetiva, no medo mórbido de engordar e da insatisfação relativa à imagem corporal. O Envolvimento familiar no tratamento pode determinar o sucesso da terapia.

O tratamento medicamentoso inclui medicações como Fluoxetina, Olanzapina, Crioeptadina, entre outros.

A indicação de internamento hospitalar é baseada na gravidade do caso e no risco de óbito. Alguns indicativos de necessidade de tratamento hospitalar são: baixo peso, desnutrição grave (peso < 75% do peso esperado); desidratação; distúrbios eletrolíticos; disritmia cardíaca; instabilidade fisiológica; bradicardia; hipotensão e hipotermia (< 36oC); estagnação do crescimento e desenvolvimento; falha no tratamento ambulatorial; recusa alimentar aguda e descontrole de purgações e compulsões.

REFERÊNCIAS

  1. Association AP. Manual Diagnóstico E Estatístico De Transtornos Mentais: DSM – 5. American Psychiatric Association. 2013.
  2. Saúde OM de. Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da CID-10: Descrições Clínicas e Diretrizes Diagnósticas. Porto Alegre: Artes Médicas. 1993;351.

3, NUNES, S. O. V. (Org.) ; VARGAS, H. O. (Org.) ; NUNES, L. V. A. (Org.) ; MORAES, J. B. (Org.) ; LIBONI, M. (Org.) . Emergências e interconsultas psiquiátricas em hospital geral. 1. ed. Londrina: EDUEL, 2012. v. 1. 306p .

  1. Hiluy, J., Nunes, F. T., Pedrosa, M. A. A., & Appolinário, J. C. B. (2019). Os transtornos alimentares nos sistemas classificatórios atuais: DSM-5 e CID-11. Debates em Psiquiatria9(3), 6-13.